Espaço Afro para Oferendas

Regramento

O espaço para a realização de rituais religiosos oferece alguns elementos para refletirmos sobre articulação entre diferentes cosmologias e o reconhecimento da diversidade dos usos dos espaços públicos.

O projeto justifica-se pela constatação de que a proposição de constituição de um espaço, legalmente delimitado, onde as religiões afro brasileiras possam desenvolver suas práticas rituais e culturais, inscreve-se em um processo de luta desse segmento não só pela garantia de seus direitos constitucionais, mas como um importante instrumento no combate às situações de intolerância, que pretendem coibir ou mesmo reprimir as práticas religiosas de matriz africana.

O racismo ambiental está vinculado à ação da exclusão do indivíduo de professar sua prática religiosa. No caso das religiões de matriz africana esses são mais discriminados, porque é uma religião vinculada ao negro, a esse passado…O racismo no Brasil não é dito, mas é vivido. […] Aí a preocupação do Espaço Sagrado. Quando a gente está firmando este espaço aqui, [nossa preocupação] é dizer “não, não exclua! Não aceitamos essa exclusão!”. Nós temos o direito de professar nossas práticas, nossa religião, de fazer nossos ritos na natureza. Até porque a natureza é nosso maior bem simbólico.

A solução encontrada pela Coordenação do cemitério Municipal Campo Bonito, para garantir a possibilidade dos praticantes da umbanda e do candomblé continuarem utilizando espaços dentro do cemitério e do seu entorno, é promover a regulamentação e reformulação das práticas rituais pelo desenvolvimento de ações de conscientização e educação ambiental que visam a compatibilizar a preservação do espaço cemiterial com o uso religioso.

A cartilha é uma ferramenta criada pelo projeto para uniformizar e democratizar o espaço do Cemitério Municipal Campo Bonito.

 

Os Espaços Sagrados

Todo o espaço é sagrado para as religiões afro-brasileiras.

  • Èsù (Exú) – Caminhos, trilhas e encruzilhadas
  • Ògún (Ogum) – Ferro
  • Òsóòsì (Oxossi) – Florestas
  • Òsanyìn (Ossain) – Segredo das folhas
  • Obalúayé (Obaluaiê / Omolu) – Terra
  • Òsùmàrè (Oxumarê ) – Arco- íris
  • Sàngó (Xangô) – Raios, trovões e pedras
  • Irókò (Irôco) – A força física do povo de santo
  • Oya (Oiá/ Iansã) – Chuva, tempestade, vento
  • Òsun (Oxum) – Rios, cachoeiras
  • Yemonja (Iemanjá) – Mares e rios
  • Obà (Obá) – Grutas, cavernas e encontro das águas
  • Yewa (Euá) – Cosmos, mata virgem
  • Nàná (Nanã) – Pântanos e mangues
  • Òòsàálà (Oxalá) – Harmonia da natureza

 

Orixá Gosta de Simplicidade e Carinho!!

Sabemos que a tradição se baseia na troca, na generosidade, por isso os rituais são sempre muito ricos e fartos. Porém, lembre-se que orixá é simples, come no chão. Isso são valores da sociedade de consumo e não da tradição afro-brasileira. Para os orixás e encantados a qualidade das oferendas é muito mais importante que a quantidade. As porções das oferendas e ebós devem ser proporcionais àquelas destinadas a uma pessoa (200g a 500g). A oferenda começa desde a hora do preparo. Compartilhe o axé com seu orixá.

 

Como Realizar sua Oferenda no Cemitério Municipal Campo Bonito

Todas as religiões realizam oferendas. Os católicos dão a hóstia e o vinho; os judeus sacrificam um cordeiro na Páscoa; os orientais dão alimentos e objetos; ou seja, não são diferentes de ninguém. Por isso, fique tranquilo ao realizar sua oferenda.

  • Agende na administração do cemitério ou através de e-mail ([email protected]) os dias que realizará o ritual e horário;
  • As oferendas devem ser realizadas no espaço do cemitério destinado as religiões de matriz africana;
  • Os alimentos cozidos devem ser consumidos ou enterrados após o tempo mínimo de exposição. O que sobra pode e deve ser enterrado ou encaminhado para a compostagem, para produção de adubo orgânico. Isso é uma prática utilizada inclusive na África, berço das religiões de matriz africana.
  • Consulte a autoridade religiosa do seu terreiro sobre o tempo mínimo de permanência de exposição.
  • Recolha sempre todos os resíduos de suas oferendas religiosas do meio ambiente.

 

O Uso de Materiais Biodegradáveis

Dê sempre preferência a materiais biodegradáveis na prática do culto. Minimize o impacto causado na natureza.

  • Alguidares, louças, copos e garrafas quebram com facilidade e causam ferimentos em pessoas e animais.
  • Copos e garrafas podem ser substituídos por cabaças, cuias de coco ou bambu.
  • Para substituir os recipientes de louça ou barro, uma alternativa é o uso de folhas.
  • Bananeira, mamona ou morim, podem forrar o fundo dos alguidares e louças.
  • Após o ritual, deixe as folhas com as oferendas e retorne com os recipientes.
  • Lembre-se de recolher todos os resíduos após o tempo mínimo de permanência. Isso tudo pode alterar a estética da oferenda, mas o resultado final compensa.

 

O Uso do Fogo no Espaço do Cemitério Municipal Campo Bonito

O fogo é um elemento imprescindível para as religiões afro-brasileiras, porém deve-se usá-lo com muita cautela, devido ao seu poder devastador.

  • Antes de depositar sua oferenda no espaço do cemitério, acenda as velas no terreiro.
  • Se tiver que acender uma vela, faça-o somente no local reservado no espaço destinado às religiões de matriz africana. Espere até que ela se apague.
  • Aproveite o tempo para rezar e sentir a energia do ambiente em volta.
  • Não deixe velas acesas nos pés das árvores. Você pode causar incêndio, além de causar dor nas árvores, pois elas são seres vivos.
  • A questão não é religiosa. Provocar incêndio é proibido por lei e você pode ser preso por isso.

 

Reduzir, reciclar e Reutilizar!

Hoje o lixo recolhido no cemitério é depositado nas caçambas cedidas pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente. E com pouco espaço é essa uma das razões por que a quantidade de lixo produzido deve ser reduzida ao máximo, principalmente a partir da diminuição do consumo de uma forma geral. Reduzir, reciclar e reutilizar o lixo são caminhos que um número crescente de casas religiosas vem adotando com muito sucesso. Solicitamos que:

  • Plásticos, metais, vidros, papéis e materiais orgânicos, que deverão ser descartados em recipientes diferenciados. A reciclagem prolonga a utilidade dos recursos naturais, além de reduzir o volume do lixo. E quanto maior a quantidade de lixo reciclado, menor a quantidade de recursos naturais consumidos.
  • O que não puder ser reaproveitado com o mesmo fim, deve ser reciclado, ganhar nova roupagem e novo uso. A louça usada nas oferendas pode ser lavada, fervida e reutilizada como recipiente de novas oferendas ou como utensílio no terreiro. Já os alguidares, por serem de barro e porosos, são de fácil contaminação para serem reutilizados na culinária e no ritual. Devem ser fervidos e podem ser reciclados se forem triturados e usados como terra. Também podem ganhar uma pintura decorativa e você pode fazer três furos no fundo deles, transformando os em vasos de planta. A questão é usar a criatividade a serviço do bem comum.

 

Responsabilidade com os Orixás

Tenha responsabilidade com a limpeza do espaço. Mantê-lo limpo coloca-o em permanente contato com o axé dos orixás.

  • Nunca deixe sacos plásticos, garrafas, velas e recipientes no local.
  • Antes de realizar sua oferenda, faça sempre uma faxina na área, retirando restos de outras oferendas, embalagens e outros resíduos, seja a área na natureza ou no próprio terreiro.
  • Leve sempre sacos de lixo e luvas plásticas para a coleta de resíduos. Se não encontrar coletores, feche os sacos e transporte-os para o coletor mais próximo.

 

Racismo Ambiental

Racismo ambiental se configura como injustiças sociais e ambientais que afetam diretamente etnias vulnerabilizadas. Entendemos que a solução para o uso religioso de áreas como o cemitério municipal, por parte dos povos indígenas e afro-brasileiros, é viável, pois suas religiões sempre preservaram o meio ambiente. Agora buscamos formas de adaptação de suas práticas para ampliar esta preservação a partir dos saberes tradicionais, em que tem como referência os Orixás, que são a própria natureza.

Assim, o povo de santo vem em direção ao conhecimento ecológico.  Por todos esses motivos, as comunidades de terreiros, já focam em práticas e usos conscientes dos espaços como o cemitério, acreditando que o poder público e a sociedade em geral devem reconhecer o legado da cultura afrodescendente e sua importância na formação da identidade brasileira. Assim, o uso dos espaços públicos, fomentarão uma efetiva inclusão social.

Numa ação conjunta entre poder público e as casas de matriz africana poderemos democratizar o uso do cemitério para práticas ritualísticas religiosas.

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